Tudo ou nada

“Quando as pessoas insistem na perfeição ou nada, só obtêm o nada” (Edith Schaeffer, O que é uma família?, Loc. 1279)

“[…] não podemos insistir na ‘perfeição ou nada’, porque acabaremos com o ‘nada’.” (Francis Schaeffer, Verdadeira espiritualidade, p.171)

Gente perfeccionista, como eu, tem um grave problema. Na verdade nós temos muitos problemas, mas, para os nossos objetivos de hoje, apenas um basta: a dificuldade de aceitar a imperfeição.

Os perfeccionistas agem assim em diferentes áreas: o trabalho não pode ter um detalhe fora do lugar; o e-mail não pode ter um acento errado; a casa precisa estar sempre irretocável; os filhos devem ter aquela aparência de modelos infantis; nós não podemos falhar.

A parte boa disso é que o perfeccionista tende a prezar pela excelência, e acaba produzindo material de altíssima qualidade.

A parte ruim é que o perfeccionista destrói a si mesmo e aos outros.

O perfeccionismo nos relacionamentos rouba a alegria e assassina a relação. O perfeccionista demanda o cumprimento exato de seus sonhos, objetivos e imagens sobre um relacionamento, e, com isso, se esquece de dois fatores centrais:

(1) O perfeccionista é pecador e vive em um mundo caído, então ele mesmo nunca conseguirá fazer algo perfeito;
e
(2) O perfeccionista está se relacionando com outro pecador, que jamais conseguirá produzir algo perfeito.

A dificuldade de aceitar a imperfeição causa grande estrago no coração do perfeccionista, e coloca um peso desproporcional sobre o outro. A lógica agora se tornou “tudo ou nada”, ou “perfeição ou nada”:

“Ou você faz um sexo perfeito comigo, ou não poderemos caminhar juntos”.
“Ou você me dá a atenção perfeita que eu espero, ou não teremos alegria”.
“Ou você se ajusta perfeitamente a minha agenda, ou não ficaremos bem”.
“Ou você fala comigo exatamente como espero que fale, ou não ficarei por perto”.
“Ou você passeia comigo exatamente do jeito que eu imagino, ou passarei o dia resmungando”.
“Ou você fala perfeitamente ‘a minha linguagem do amor’, ou eu cobrarei de você incessantemente”.

Na dinâmica do “tudo ou nada”, as cobranças apenas crescem, e não existe graça para lidar com o outro. O perfeccionista não percebe como cobra do outro algo que ele mesmo não consegue entregar, e também não percebe como ele age de modo egoísta.

Tudo o que o perfeccionista deseja é um relacionamento belo e perfeito.

Mas a realidade é fatal: “Quando as pessoas insistem na perfeição ou nada, só obtêm o nada”, diz-nos o casal Schaeffer.

Eles experimentaram isso na prática: enquanto cobravam perfeição teológica e uma concordância absoluta das pessoas consigo, só conseguiam afastá-las. O resultado era que destruíam os relacionamentos e se isolavam progressivamente.

Mas existe restauração no evangelho.

A Bíblia nos fala de um Deus perfeito e não perfeccionista. Ele é paciente e gracioso: caminha conosco em nossas imperfeições, enquanto nos ajuda a crescer. Para resolver o problema de nossa imperfeição, entregou Seu Filho, por meio de quem somos tornados justos e imaculados.

O evangelho nos ensina que um relacionamento conduzido com graça faz pessoas e situações imperfeitas manifestarem a sua face mais bela.

Você tem cobrado perfeição de si e dos outros?