Samuel recebeu Jessé e seus filhos e logo viu Eliabe, homem de boa aparência e grande estatura. “Certamente esse será ungido rei”, pensou. Mas Deus tinha planos diferentes. Em vez do imponente Eliabe, Deus havia escolhido o caçula nada impressionante, Davi.
Quem hoje pega um livro ou vê os vídeos de Francis Schaeffer, pode pensar estar diante de um homem que teve todos os recursos para se tornar um gigante. A Relevância de Schaeffer e o seu impacto sobre o evangelicalismo na segunda metade do século 20 lhe conferem um tipo de status que impressiona e intimida.
Mas, se dermos um passo para além das aparências, encontraremos algo diferente. Como o Davi inexpressivo, Schaeffer era um garoto inexpressivo, para dizer o mínimo. Ele nasceu em um lar sem grande estímulo intelectual e artístico e, não bastando a falta de estímulo externo, Schaeffer tinha de lutar com uma severa dislexia, que nem pôde ser diagnosticada no período de sua infância!
Quem diria que tal garoto se transformaria no homem da “Apologética Cultural”? Quem diria que ele seria capaz de palestrar em universidades como Oxford e Harvard? Quem diria que ele poderia discutir temas filosóficos com propriedade e clareza? Quem diria que estaria na capa da revista Time, identificado como “o missionário aos intelectuais”?
Deus diria.
E Ele diria por uma razão simples: O Senhor tem uma lógica própria. Ele age de modos improváveis. Um exemplo disso está em 1 Coríntios 1. Como nos diz o apóstolo Paulo,
Deus escolheu as coisas loucas do mundo para envergonhar os sábios e escolheu as coisas fracas do mundo para envergonhar as fortes; 28 e Deus escolheu as coisas humildes do mundo, e as desprezadas, e aquelas que não são, para reduzir a nada as que são; 29 a fim de que ninguém se vanglorie na presença de Deus. 1 Coríntios 1:27–29 (Bíblia Almeida Strong)
Essa verdade nos traz dois desafios.
O primeiro deles é o de combater a nossa inclinação à teologia da glória, para abraçarmos a teologia da cruz. Esses são termos que Martinho Lutero utilizou em 1518, no debate de Heidelberg. De modo simples, podemos dizer que a teologia da glória busca conhecer a Deus em poder, glória, status, triunfo, ostentação e glamour. Deus só é reconhecido e valorizado se estivermos falando em vitória, bem-estar e grandeza. Em contraste, a teologia da cruz enfatiza o modo como Deus decidiu se revelar a nós: em fraqueza e humilhação. Curiosamente, a glória de Deus é revelada por meio da cruz.
Samuel, guiado pela teologia da glória, logo achou que Deus escolheria o homem de aparência mais impressionante. Nós, guiados pela teologia da glória, queremos ter as manifestações de força e poder para nos sentir valiosos.
Mas Deus se revelou em fraqueza, e nos convida a tomar a nossa cruz.
O segundo desafio é um conforto. Se, por um lado, devemos combater a nossa inclinação natural para a teologia da glória, por outro lado, devemos descansar ao perceber as coisas improváveis de Deus.
Nós nos sentimos pequenos demais e fracos demais para servir ao Senhor. Nós achamos que as nossas iniciativas não produzem impacto e por isso nos avaliamos como fracassados. Nós queríamos ministérios maiores, números impressionantes, capacitações exuberantes e todas as demais demonstrações de glória pessoal. Carregamos o peso insuportável de tentar provar a nós mesmos e ao mundo que temos valor. Mas Deus nos convida a descansar.
Como Francis Schaeffer nos lembra, “não há gente sem importância (no little people) e nem lugares sem importância (no little places)”. Pessoas improváveis, cheias de dificuldades e contradições, sem uma história de nobreza e tradição, sem características impressionantes, são usadas por Deus para os Seus santos propósitos.
No fim das contas, tudo depende daquilo que Deus deseja fazer em nós e através de nós. E não há nada melhor do que estar no lugar de Deus para nós. Ali, seja grande ou pequeno, seja notável ou simples, as coisas improváveis de Deus acontecerão, e eu e você poderemos ser usados para a sua verdadeira glória.
Você está contente nos lugares em que Deus o tem colocado?