Sentença pronunciada pelo Senhor contra Israel, por intermédio de Malaquias. (Malaquias 1.1)
Você passou por uma das situações mais difíceis da sua vida, mas finalmente ela chegou ao fim. “Depois da tempestade, vem a bonança” — é o que dizem, então você aguarda a paz e o descanso. Mas elas não chegam. Embora os dias de grande tormento tenham passado, a sua experiência presente não é de alívio, mas de pequenas doses de lutas. Com o passar do tempo vem o cansaço, e com as expectativas não atendidas e constantes frustrações, o seu coração começa a ceder ao cinismo. Ao final do processo, você é simplesmente uma pessoa amargurada, com o coração endurecido.
Já passou por algo parecido? A cena acima descreve a realidade do povo de Deus durante o ministério do profeta Malaquias. Estudiosos datam o seu ministério por volta dos anos 440–430 a.C. e a composição do livro após 430.
Se você lembra da ordem dos eventos, o povo de Deus havia passado por grandes lutas. Desde a sua divisão em dois reinos, norte e sul, há períodos longos de desobediência a Deus e degradação nas mais variadas áreas. O Reino do Norte, cuja capital era Samaria, foi atacado e deixou de existir ainda no século oitavo antes de Cristo (722 a.C.). O Reino do Sul permaneceu por mais tempo, mas em 586 a.C caiu sua capital, Jerusalém. O povo seguiu para o exílio na Babilônia, resultado de seu pecado, e ação corretiva de Deus.
Após um período no exílio, Deus julgou e derrubou o império babilônico por meio de outro imperador, agora da Pérsia, Ciro. A estratégia política desse império era diferente, e assim seria permitido aos cativos retornar para a sua terra. Em 538 a.C. houve o primeiro movimento de retorno para Jerusalém, sob condução de Zorobabel e Jesus (Cf. Esdras caps. 1 e 2). Eventualmente, outros movimentos de retorno teriam lugar, com Esdras (Cf. Esdras 7) e Neemias (Cf. Neemias 1).
Imagine a expectativa do povo! Libertos do exílio, retornando para a sua terra, e dispostos a experimentar a glória um dia desfrutada! As promessas da restauração de Deus ecoavam no coração do povo, e logo se iniciaram os passos de reconstrução do altar, do templo e da cidade. Mas nada foi como antes.
O profeta Ageu havia anunciado que a glória do segundo templo seria maior do que a do primeiro (Cf. Ageu 2), mas isso não havia acontecido. A glória da cidade não chegou. A libertação política também não havia acontecido — estavam em sua terra, mas ainda eram dominados pelo império Persa. A paz nunca veio plenamente, pois os povos vizinhos ainda eram inimigos, especialmente os do norte. Para completar, o Messias prometido nunca apareceu.
Agora já se passou um século nessa condição e o estado espiritual do povo é decadente: o cansaço e a frustração deram lugar às muitas dúvidas do povo, e finalmente o coração se tornou duro, sem esperança e cínico. O resultado final desse processo é a tradução prática da incredulidade: uma vida de pecados.
Por vezes não sabemos como a verdadeira espiritualidade simplesmente “some” da nossa caminhada. Parece que acordamos em um dia e tudo é diferente: perdemos o brilho no olhar, e não mais amamos ao Senhor de todo o nosso coração. Nossas respostas são frias e mecânicas, e por dentro estamos “secos”.
Talvez uma chave para entender o processo esteja em observar essa dinâmica no coração do povo de Judá. Frustrações e expectativas não atendidas levaram o povo (e nos levam) a resistir ao Senhor em pequenas doses, até que o ciclo esteja completo.
O cinismo pode ser uma resposta psicológica de autoproteção. Abrir-se para o desejo, especialmente quando temos de esperar por ele sem um prazo definido, é extremamente doloroso. Ter a nossa vontade frustrada é terrível. Então passamos a duvidar e resistir, pois assim nós continuaremos no controle da nossa vida. Para não me machucar, eu duvidarei, esperarei o pior, e até zombarei da esperança.
Mas o cinismo não nos protege de nada; apenas vai nos matando em doses pequenas. A solução para as nossas frustrações e cansaço não é o endurecimento estóico ou cínico, é o quebrantamento diante de Deus.
O Senhor enviou o profeta Malaquias para abrir os olhos do povo para a verdadeira espiritualidade. E nesse encontro há muito o que podemos aprender.