Sexualidade de conveniência (Malaquias, pt.6)

“Eu odeio o divórcio”, diz o Senhor, o Deus de Israel […] (Malaquias 2.16)

A falsa espiritualidade se manifesta de maneira plural. Enquanto vamos à igreja com regularidade, e talvez até tenhamos algum contato com a Bíblia; enquanto dizimamos fielmente e até servimos em alguma área da igreja, podemos esconder um coração que está distante do Senhor. Isso se revelará em áreas concretas de nossa caminhada. Uma dessas áreas é o campo da sexualidade.

Os “homens de Deus” desonraram as filhas de Deus. Malaquias alertou o povo a respeito das atrocidades cometidas. O casamento misto — entre os judeus e as mulheres pagãs — era a primeira delas. “Judá desonrou o santuário que o Senhor ama; homens casaram-se com mulheres que adoram deuses estrangeiros.” (Ml.2.11b). Para muitos, o escândalo é que haja tal separação. Como é possível proibir o relacionamento entre duas pessoas que se amam, apenas por serem de povos (e religiões) distintas? O enquadramento sentimental da questão não ajuda. Não se trata, simplesmente, de definir com quem devemos nos relacionar, mas de identificar de quem será a nossa lealdade última. O sentimentalista é devoto de suas emoções: em nome delas faz suas escolhas. Deus deseja que o nosso relacionamento mais fundamental, aquele que orientará todos os demais, seja com Ele. No fim das contas, é disso que mais precisamos.

Historicamente, o envolvimento amoroso do povo de Deus com outros povos sempre resultou em tragédia. Não foi Israel que influenciou os outros povos a temerem o Senhor; por causa do coração pecaminoso, sempre foram os filhos de Deus a rejeitar a Lei do Senhor e seguir falsos deuses. Nem mesmo o rei Salomão, homem de profunda sabedoria, conseguiu escapar disso. A proibição de Deus tem como objetivo guardar o seu povo. Mas Israel O desprezou.

Os versículos seguintes, 12 e 13, indicam que esses homens, casados com mulheres pagãs, continuavam em sua expressão de religiosidade, cumprindo os rituais diante de Deus. Enquanto desonravam ao Senhor com a sua vida e relacionamentos, queriam pedir a bênção de Deus e se sentir em paz por meio dos sacrifícios oferecidos. A falsa espiritualidade manifesta essa divisão, na qual ficamos cada vez mais endurecidos para o nosso pecado e nos entregamos a um estilo de vida hipócrita. Deus não tem prazer nas ofertas dos falsos piedosos.

Malaquias nos diz que tais homens ainda estranharam o alerta. “Por que Deus não se agrada de nossas ofertas?”. O profeta apresenta a outra atrocidade: tais homens não apenas se casaram com mulheres pagãs, mas fizeram isso ao abandonarem as suas mulheres originais, do povo de Israel. Malaquias qualifica isso como infidelidade e divórcio.

O impacto disso é amplo. Os “homens de Deus”, casados com as filhas de Deus, decidiram viver segundo suas paixões e deixar suas mulheres. Levados pela sensualidade, envolveram-se com mulheres idólatras, que rejeitavam ao Senhor. O primeiro impacto envolve a rejeição do Senhor e da Sua Lei. O segundo impacto envolve a dimensão social: as mulheres de Israel, abandonadas, agora eram entregues à condição de pobreza, por não terem um provedor.

O texto fala sobre um tipo de masculinidade que se aproveita de mulheres conforme o desejo do momento; uma sexualidade de conveniência. Enquanto houver satisfação sexual ou algo do tipo, eu estarei com a minha esposa; tão logo apareça alguém melhor, eu “pularei fora do barco”. A lógica hedonista denunciada na Escritura revela que usar outras pessoas para o meu prazer não é apenas um gesto egoísta, mas um ato de rebeldia contra Deus.

Deus odeia o divórcio porque ele representa a quebra da aliança. Se o casamento é uma ilustração do relacionamento entre Jesus e a igreja, uma ilustração do evangelho, então o divórcio é uma representação distorcida desse relacionamento, um falso evangelho.

A falsa espiritualidade tem muitas faces. Uma delas é a do homem que usa mulheres a seu bel prazer, e as descarta quando quer. Outra é do homem que não anda em fidelidade para com a aliança. Ainda outra é a daquele que não zela pela proteção e provisão para sua companheira. Todos estes prestarão contas a Deus.