Sobre leões e ratos

O medo e a ira podem ser as mesmas palavras ditas com uma atitude diferente. (Ed Welch, Running scared, p. 34)

“Nem tudo o que reluz é ouro”, dizia o antigo ditado. Nem tudo é realmente aquilo que parece ser.

Pense no marido que explode com a sua esposa. Ele não gosta de certas roupas que ela usa, ou de certas críticas que ela faz. Como resultado, age de modo irado e estridente.

Pense no chefe e seus subordinados. O modo que escolheu para manter a produtividade de sua equipe é o de posturas ofensivas e intimidadoras.

Pense no líder cristão e seus liderados. Seu estilo de liderança é agressivo; suas palavras são duras; ele é rígido e severo.

Pense no jovem às vésperas do ENEM, ou entrando no mercado de trabalho. Ele pode ficar irritadiço e inquieto.

Pense na mãe e seus filhos. Ela explode com as crianças sempre que algo foge do seu planejamento ou desejo.

O que todas essas posturas podem ter em comum? O medo.

Quase ninguém imagina que a postura agressiva de um leão pode esconder um ratinho assustado. Mas essa é a realidade em muitos casos.

Parte da explicação está na percepção social do fenômeno. Alguém agressivo e irado pode ser visto como forte, enquanto alguém medroso é considerado fraco. Entre ser vistos como fortes ou fracos, o que preferimos? Não é difícil escolher.

Então, sobre o medo que nos consome, colocamos a máscara “respeitável” da ira. Levantamos a voz, gritamos, usamos expressões faciais de indignação e agressividade, gesticulamos e assumimos posturas físicas de combate… tudo para esconder os temores mais profundos do nosso ser.

As manifestações de ira também são escolhidas, porque providenciam a ilusão de que estamos fazendo alguma coisa, e de que estamos no controle. Enquanto a percepção clara do medo nos coloca em uma situação de passividade e vulnerabilidade, as manifestações de ira providenciam um senso de movimentação e aparente domínio sobre o cenário a nossa volta. Mas é tudo ilusão.

O marido teme ser traído. O chefe teme ser demitido. O líder cristão teme perder a autoridade. O jovem teme não ser aprovado no ENEM ou não conseguir um emprego. A mãe teme que algo de ruim aconteça com seus filhos.

Enquanto o medo nos consome por dentro, a ira consome os nossos relacionamentos e machuca as pessoas perto de nós. O resultado é que, por causa de nossas manifestações iradas, muitas vezes acabamos matando aqueles relacionamentos que tememos perder.

Por sua agressividade, o marido afasta a esposa; o chefe irrita seus funcionários; o líder deixa de ser admirado e respeitado; o jovem perde o apoio; a mãe desanima seus filhos.

O problema é que, muitas vezes, sequer estamos cientes de nossos medos. Usando automaticamente a máscara da ira, deixamos de ouvir o nosso coração, e de levá-lo Àquele que pode tratar os nossos temores.

Então chegamos à condição de pessoas assustadas que assustam, sem saber o que as assusta e por que agem assim. Mas não precisamos viver desse modo.

Maridos, esposas, pais, chefes, jovens e líderes podem ouvir seu coração, reconhecer suas fraquezas e temores, e abandonar as manifestações de ira. Pessoas como eu e você podem encontrar alento na graça do Supremo pastor que nos leva às águas tranquilas, e ali encontrar paz para temer a Deus acima de todas as coisas, e assim vencer os outros temores.

Você está agindo com ira? Quais são os seus medos?